Uma possibilidade em que não havia pensado e não pensaria se não tentasse pensar como outra pessoa é que, talvez, ela não tenha lido a carta escrita nas páginas do livro.
Se o livro nunca chegou a suas mãos?
Se ela sequer soube dos sentimentos dele?
Tudo é possível – pensei em escrever “todas as possibilidades possíveis” mas melhor não.
Apesar de esse questionamento ter força e apelo como princípio de algo metalinguístico, não seria fácil encaixar numa narrativa ortodoxa… tergiversação demasiada, acho. Tudo que poderia ser interessante fica chato, antimidas, eu mesmo critiquei o excesso de reflexão numa narrativa, a falta de desenvolvimento numa situação em que o pensamento torna-se protagonista ou mais protagonista do que o protagonista.
Ele poderia ser o narrador e, se fosse essa minha opção, teria que concebê-lo como narrador não-confiável e só nisso já acrescentaria uma camada significativa na narrativa pretendida.
Talvez pudesse determinar o espaço ocupado pelo “herói” como um manicômio, um hospício, e ele ocuparia boa parte do tempo tentando lembrar como foi parar ali. A própria carta me inspira a pensar nesta direção. O “herói” tem uma autoimagem deformada pois escreve que sonhou com uma versão melhorada de si mesmo, “nos eixos”.
Daí essa noção: narrador no hospício.