Arquivo do mês: maio 2009

je-je-je

então a semana passou (não) literalmente em ‘brancas nuvens’. exceto, é claro, pelas chuvas constantes que demandaram, sim, nuvens e mais nuvens, de preferência escuras, escuríssimas, tanto que davam a impressão de ser um teto de nuvens, tamanha escuridão e homogeneidade. um teto sem paredes laterais que o sustentassem, o que agravava a sensação de irrealidade. e, claro, o sentimento opressivo de cansaço além de qualquer descanso.

nem tudo foi dor, pranto e ranger de dentes. pelo menos um objeto de desejo materializou-se e, assim, deixou de ser objeto de desejo e passou a outra categoria de objeto. a destruição paulatina de uma biblioteca acrescentou tijolos fundamentais a outra. não que isso importe. tá bom, importa porque a outra é a minha. então importa, pelo menos, pra mim.

que mais?

senti uma vontade crescente de agredir fisicamente alguns desconhecidos. bom, nenhuma novidade na vontade de agredir fisicamente, sinto essa todo dia, mas os desconhecidos geralmente recebem o benefício da dúvida que este qualificativo garante. quando disse o que queria fazer, depois de dois expressos, o sr. Freire informou-me gentilmente que eram paquistaneses. não sei se é de bom tom agredir fisicamente paquistaneses em plena tarde de sábado na companhia dos amigos, mas não resisti a soltar o verbo. isso posso fazer com relativa facilidade, sem medo de represálias.

a conclusão a que cheguei depois de muito (pouca) reflexão sobre o episódio é que, bomba atômica ou não, má educação também é um lance glogalizado.

silêncio/alucinação

Tem essa ‘visão’ tornando-se obsessão. É, discuti o assunto com uns três caras nos últimos, o quê?, dez anos, mas não consegui definir em palavras o que quero dizer, muito menos exemplificar.

A ‘coisa’ deve ter se insinuado pra mim numa das conversas telefônicas com um colaborador em que tratávamos dum assunto ‘caro’ pra ambos, a produção de certos autores que chamávamos ‘caligráficos’, devido à economia de seus estilos e à facilidade de reconhecê-los. Millazzo, Pratt, Toth, Miller, Muñoz, Kojima e seus herdeiros, Risso, Campbell, Matsumoto e um punhado de outros.

Escrevi várias vezes sobre isso, sobre o material que compõe uma HQ e a necessidade de trazê-lo em rédea curta o bastante pra que o leitor veja as palavras e leia os desenhos… afinal, tanto ícone quanto palavra, em HQs, são elementos visuais.

Penso em recursos poéticos e estilísticos usados por Camões e Machado pra aproximar o indefinível e a ausência da percepção do leitor.

Silêncio em HQ nunca, jamais, vai ser economia de palavras. Uma HQ verdadeiramente silenciosa não é aquela em que limaram onomatopéias ou que só faz uso de balões de pensamento ou recordatórios com narrativa em off. Tampouco é aquela em que não há sequer uma palavra, em que tudo se resume a uma pantomima das personagens em cenários ricamente detalhados e painéis sem-fim mostrando tudo…

Não.

O texto da HQ é icônico e lingüístico, portanto uma HQ silenciosa é uma que mais sugere que mostra. A HQ silenciosa é uma ausência de elementos, a eliminação de redundâncias, não necessariamente ‘algo que é’ determinada ‘coisa’.

Minimalismo.

Calhas largas, ausência delas, tempo indeterminado.

Alucinação.

não rolou

Paul Pope - painel da curta

Paul Pope - painel da curta

Desde sábado passado tenho enchido o saco dos caras com a ‘entressafra’ que venho penando… quer dizer, não tenho escrito tanto quanto na virada 2008/2009, diminuí o ritmo apesar de manter, meio que na inércia, uma produçãozinha insipiente.

Todo ano é a mesma coisa, a propósito.

Todo ano tem um ‘período de seca’, em que geralmente aproveito pra renovar idéias, aprofundar et al. Sem problema. Ruim é que às vezes, justamente nesse período, as pessoas pedem algum texto. Foda. Fazer o quê?

Daí que tinha escrito prum dos poucos caras online que me suporta (fala, Jean!) mais pro meio da semana e repetido a mesma ladainha que despejei no Zé R. e no Leonardo A.: ‘não tenho conseguido escrever, falta tesão/tempo’, enfim, algo do gênero.

Até ontem eu tava de folga do trampo e devia ter aproveitado pra produzir. Não rolou. Li um monte de coisas (muito lixo, muita-muita abobrinha, e um punhado de pérolas), mas escrever que é bom…

E pronto.

Fui deitar sabendo que precisava estar em pé antes das 5 da manhã. Tentei conciliar o sono, parar de pensar, evocar imagens tranqüilas e todas as técnicas de combate a insônia que consegui catalogar nesses anos todos.

Só que eu tinha aberto o arquivo dum roteiro que nunca tinha considerado particularmente bem-resolvido e mexido um pouco nele. O troço é de 2007. A versão que eu olhava tinha até sido desenhada por um camarada entusiasmado mas nunca viu a luz da publicação.

E aí eu percebi. Enquanto tentava dormir percebi o que eu tinha feito, o caminho errado que tinha tomado com relação a essa história em particular. Ela era a seqüência de uma HQ que eu não tinha escrito ainda. E as peças, todas elas, todas minhas vontades, começaram a clicar ao se encaixarem. “Já sei qual é a história, sei seus começo, meio e fim… mas como quero que isso fique na página?”

Fui pra minha mesa de trabalho e comecei. Escrevi até as três e meia, dormi uma hora e quinze minutos e fui trabalhar.

Cheio de idéias visuais com que me entreter por dezesseis páginas.

inkshot

e que raio é isso afinal?

vai e vê o blog que os camaradas responsáveis montaram.

‘São Dargarius no Panopticon’, a primeira hq que escrevi este ano (vamos torcer pra que não seja a única, claro, mas com a preguiça mortal que me acomete…), foi elaborada pressa antologia.

cês já viram amostras da arte da hq por aqui, cortesia do Leonardo A. Freire, comparsa-amigo-irmão desde quase sempre.

agora VAI!

TEC

não costumo fazer esse tipo de coisa, mas como pareceu interessante pra mim, talvez também seja procê. recebido do sr. Fabiano Gummo, quadrinhista de primeira, mas não só. read on:

TENTACLE ENSEMBLE COLLECTIVE
experimentART.

Hola,
Nós- do TENTACLE ENSEMBLE COLLECTIVE – gostaríamos de apresentar o trabalho artístico desenvolvido em nosso Laboratório de Análises Estético-Comportamentais (LAEC). Todos os resultados obtidos pelo grupo em nossas “Experiencias n!” são apresentados através de Art Performances que incluem e fundem simultaneamente três línguagens artísticas: Artes Visuais, Vídeo-Instalações e Música Experimental / Improv. Dessa forma, trazemos até o conhecimento de vocês, um vídeo-apresentação que demonstra nossas digitais tentaculares através do endereço eletrônico abaixo:

Agradecemos a atenção!
Boa semana a todos.

TENTACLE ENSEMBLE COLLECTIVE
experimentART.

maiores informações em:

http://www.myspace.com/tentaclensemblecollective

http://www.fotolog.com.br/tentaclensemble

http://www.youtube.com/user/tentaclescollective

Rasura

Michael Chabon escreve num dos ensaios de MAPS AND LEGENDS a respeito de como, pra alguns leitores, os limites entre realidade e ficção são borrados, incertos. Relata a anedota de uma senhora que lhe contou ter avistado a fictícia comunidade judaica de Sitka (a ilha existe, mind you, a tal comunidade só mesmo em ‘The yidish police union’) no Alaska, num cruzeiro de férias. Outros perguntaram a respeito de sua homossexualidade (por causa do protagonista de ‘Usina de sonhos’); de sua dependência química (Garotos incríveis); ou falaram de como colecionaram e leram os gibis do Escapista (muito antes da Dark Horse ter lançado sua antologia, na época do lançamento de ‘As incríveis aventuras de Kavalier e Clay’).

Aquele chavão do pôster de ‘Arquivo X’ que se via na parede da sala do agente Mulder é a realidade de muita, muita gente. As pessoas QUEREM acreditar.

Foi um comentário no Labirinto sobre ‘o segundo sol’ que afrouxou ou apertou alguns parafusos na cachola e, acho, me pôs pra pensar. Coisa terrível de acontecer logo quando tenho uma folga do trampo secular.

Pra chegar no ponto em que quero preciso falar da origem do tal texto. Saca a Cássia Eller? Pois é, eu gostava muito da interpretação que ela dava a uma canção que, se não me engano, tinha o mesmo título. Na época em que martelei a keyboard e produzi a bagaça, tava lendo ‘A nova inquisição’, do Robert Anton Wilson, que é mais ou menos como um update de ‘O livro dos danados’, de Charles Fort.

O velho Chuck, pra quem não sabe, é o patrono de todo crank, todo maluco por teorias de conspiração and so on.

E o Zé Renato me lembrou da tal história de Nemêsis, o anti-sol, no último fds.

Então peguei aqueles exemplos de fenômenos inexplicáveis que casavam com a idéia geral de ‘sinal dos tempos’ da alegoria bíblica, um pouco do humor escatológico da coisa, as alfinetadas na ciência convencional, que no começo do séc. XX recusava-se (e ainda ignora boa parte deles) a examinar os ditos cujos e juntei da melhor maneira que pude, dentro dos meus recursos limitados de digitador, acrescentando, como toque final, a idéia de que a ‘realidade’ ou o universo em que vivemos nada mais é que um holograma… essa roubada de David Bohm e Philip K. Dick.

É. Ficção… talvez não seja assim tão distante do ‘real’, ou o que se passa por isso nowadays. Foda-se. Que seja premonitório, então. Pelo menos pra mim. Quero escrever sobre o que acontece depois do fim. Nova ficção pós-fim-do-mundo. É o que há.

Enquanto ela não chega, olha isso aqui.

gnose

é de ‘bom tom’ oferecer às pessoas uma alternativa. lendo uma das ‘bíblias’ do discordianismo, peguei uma definição supercool de ‘dogma’ e o que seria (e é, neste caso específico da experiência religiosa) seu oposto, a ‘gnose’.

o dogma são experiências relatadas por sabedores, sacerdotes and the like, com o fito de poupar a massa daquele perigosíssimo processo chamado pensamento. geralmente é aceito como um axioma, uma verdade indiscutível, e quem questiona os dogmas é considerado herege. use como quiser, de preferência com uma pitada de sal e uma colherada de mel.

a gnose é a experiência em primeira mão que pode gerar dúvidas a respeito do dogma e levar à reflexão. evidente que todo o lance de ‘pensar’ pode ser incomodo e doloroso, já que demanda livre associação de idéias, reconhecimento de padrões, uso da memória cronológica e merdas assim. além do mais, pessoas que preferem ter suas próprias experiências com o divino terminam se queimando. pergunte ao pessoal de Carcassone, circa séc.XII.

e já que cê veio até aqui, te mando pra algo útil, entrevista com um dos poucos escritores mainstream em atividade dos anos 60 até nossos dias que trouxe algo diferente pro prato. descubra sua origem secreta, seu background.