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ideal x real

Em 2007, depois de uma febre cerebral que fritou boa parte de meus neurônios e fodeu com as poucas sinapses funcionais que ainda tinha, escrevi um texto com ajuda e insights de Jean Okada que tentava divisar qual seria o ‘formato’ (ou idioma) por natureza das hqbs.

Concluímos, e isso devido em grande parte às sacadas do sr. Okada, que a história curta seria o ideal. O assunto não ficou jogado às traças, pelo menos não na minha cabeça, mas toneladas de caraminholas e uma ou outra tentativa frustrada de fazer decolar um projeto cada vez mais sintético de quadrinhos (iniciado com histórias fechadas com número de páginas reduzidíssimo que tornaram-se tiras com tema recorrente e personagens que se revezavam ou só faziam uma aparição) me desviaram de avançar um pouco mais na direção do que seria o mais adequado em termos de publicação.

A história curta, claro. Não que a história de como cheguei a essa conclusão seja curta, mas a conclusão é, justamente, a história curta. Dada a imprevisibilidade de aceitação das publicações tupiniquins, da volatibilidade do público leitor e de trocentas outras variáveis, produzir hqs fechadas e com poucas páginas seria o melhor.

Trocando idéias com um colega roteirista (que trouxe à baila uma série de outros entraves que impedem a viabilização do plano ‘editor+equipe criativa do começo até o fim’) vi reforçado o conceito de que o tipo de antologia que talvez funcionasse com aquele grupo de indivíduos que se propõe a trabalhar dentro de certa organização e seguindo padrões de qualidade pré-estabelecidos, seria uma de personagens recorrentes.

Histórias de 8 páginas, autocontidas, com personagens que apareceriam na edição subsequente em outra história, também autocontida. Então, uma antologia deste tipo teria, sei lá, 3 séries concomitantes, de personagens recorrentes, totalizando 24 páginas de quadrinhos por edição, ao invés de as equipes criativas investirem seu tempo no desenvolvimento de histórias fechadas de personagens que desapareceriam a seguir, ao fim da narrativa.

O termômetro de popularidade das séries/personagens/equipes criativas seria a web e, claro, as vendas. Nada impediria que os leitores tivessem essas hqs disponíveis online. Até hoje a tese do McCloud de micropagamentos não foi posta à prova, talvez os ases da programação pudessem dar um jeito nisso, se tivessem estímulo pra isso e pudessem ser cooptados como parte da equipe.

Parece que alguma(s) pessoa(s) não sacaram o modelo proposto. Reitero: é de uma editora independente, uma sociedade limitada composta por autores independentes que, sabedores das dificuldades de se produzir uma história em quadrinhos, assumiriam papéis que iriam além daquele já desempenhado. Uma editora indie (cooperativa) que pusesse em prática o modelo de grandes editoras, de ‘linha de montagem’, mesmo.

Evidente que, como dito na entrada anterior, quadrinhistas independentes trabalham com quadrinhos em suas horas vagas, portanto não teríamos os mesmos prazos de uma editora grande. Uma publicação trimestral, quadrimestral ou semestral, que tivesse garantida sua continuidade (quanto menor o tempo entre uma edição e outra, maiores as chances de que a marca e/ou personagens se fixem na memória do leitor) seria uma inovação.

É esse o modelo que os ingleses de que falei na entrada anterior adotaram. Claro que fazer com que pessoas que se enxergam como artistes e profissionais consumados dos quadrinhos (mesmo não tendo publicado coisa alguma com uma editora qualquer) concordem em assumir papéis que julgam de menor importância, como fazer letras, revisão, diagramação etc., mesmo que sejam bons nisso é mais ou menos como convencer o grupo a ter o mesmo sonho ao mesmo tempo. Como naquela hq do Gaiman.

Ainda é um sonho.

São só idéias.

Se alguém decidir usá-las, ótimo. Se alguém quiser fazer diferente, excelente.