Arquivo do dia: 3 de março de 2011

raciocínio # 3

Tim Callahan, srs., sras., srtas., criaturas:

Raciocínio # 3: Até o diálogo? Sério?

E o diálogo, então? Claro, mesmo se nós aceitarmos que o Ponto de Vista é o domínio do artista, e assumirmos que o visual é baseado mais na “escrita” que acontece na mente do artista enquanto traduzia um roteiro para uma página a lápis, então podemos manter o diálogo ainda sob responsabilidade do escritor. Quer dizer, talvez o letrista possa impactar a escrita com algumas fontes da hora ou algo assim, mas como pode o artista, que meramente desenha as imagens, influenciar as palavras que aparecem nos balões de texto?

Brian Michael Bendis não recebe, pelo menos, crédito por aquilo que seus personagens dizem uns aos outros?

Claro, mas não tanto como nós tendemos a assumir.

Vamos deixar os quadrinhos de lado por um minuto e pensar sobre o cinema novamente. Os diálogos de um filme são julgados quase que inteiramente nas performances dos atores. Poderíamos dizer, “Aaron Sorkin escreve um bom diálogo” e “Paul Haggis escreve diálogos ruins”, mas em ambos casos a qualidade do diálogo é quase totalmente dependente da habilidade do ator para fazê-lo “crível” e da habilidade do diretor de fazê-lo ajustar-se ao tom do filme de forma adequada.

Ou, outro exemplo, George Lucas. Seus diálogos em “O Ataque dos Clones” é substancialmente pior do que o diálogo em “Uma Nova Esperança”? Com certeza parece ser. No entanto, na página, o diálogo é lido tão empolado e atonalmente quanto em qualquer script. Mas no cinema Carrie Fisher, Harrison Ford e James Earl Jones (e em muito menor grau, Mark Hammill) podem pegar esse texto e fazê-lo funcionar. Não fica só suportável, é bem sucedido. Natalie Portman, Hayden Christensen e Ewan McGregor fazem falas similares soarem insuportáveis. E se isso é porque são menos qualificados ou porque George Lucas dirigiu-os de modo substancialmente diferente, bom, não importa.

Porque em uma história em quadrinhos, o artista é o ator e e a pessoa que dirige o desempenho do ator.

Aqui é onde entra o tom também. E desde que a voz narrativa é tão dependente do tom como o é do ponto de vista, parece um golpe duro pra supremacia do escritor de quadrinhos dizer que o tom é quase inteiramente dependente do artista, mas é verdade.

Pense em “Liga da Justiça Internacional”, de Keith Giffen / J. M. DeMatteis. Ela teve alguns momentos sombrios, mas era uma história em quadrinhos engraçada, né? Bom, era, mas não era muito mais engraçada quando Kevin Maguire a desenhava em comparação com, digamos, Ty Templeton e Mike McKone ou Linda Medley? Os scripts podem ter sido basicamente idênticos no tom, e ainda assim um Maguire certamente levaria a comédia mais longe do que Medley seria capaz, apesar de todos os artistas mencionados no presente parágrafo serem bons artistas de quadrinhos.

Ou pense num número do gibi “Swamp Thing” desenhado por Bernie Wrightson em comparação com um por Tom Yates ou por Steve Bissette. Todos excelentes artistas. Todos bons ilustrando “horror”, mas, ainda assim, o tom de seus números de “Swamp Thing” é distinto. Mesmo quando se trabalha com Alan Moore, um escritor que enche as páginas com descrições de todos os cantos de um painel, alguém como Rick Veitch produz uma história em quadrinhos com um tom diferente de alguém como John Totleben.

E o tom é central para o significado do diálogo.

E os artistas controlam o tom.